Vivemos num País do faz de conta em todos os domínios, mas por hoje vamos cingir-nos à politica. O Bloco de Esquerda apresentou recentemente uma moção de censura que era suposto ter por objectivo derrubar o Governo, mas afinal era um pretexto para ajudar o Governo a respirar durante mais algum tempo dando-lhe oportunidade para atacar os Partidos que não se pronunciaram no minuto seguinte à apresentação da moção dizendo que eram contra esta e que portanto com essa atitude estavam a causar instabilidade política, origem de todos os males que nos afligem, e para os quais obviamente o Governo não contribuiu.
O PCP, anda há semanas a gritar: “agarrem-nos senão apresentamos uma moção de censura “, mas soube-se agora pela voz do seu secretário geral que afinal a moção não é contra o Governo, é contra a Direita, logo o PSD e o CDS estão “proibidos de votar a favor da mesma”. Poetas.
O PSD às segundas, quartas e sextas afirma solenemente que se o Governo não tiver condições para governar tem soluções para a crise. Às terças, quintas e sábados está com o Governo para “salvar” o País da bancarrota. Aos Domingos escuta Marcelo Rebelo de Sousa para reorientar a sua navegação à vista.
O CDS, faz-nos lembrar aquele ancião que na hora da morte enquanto passava em revista o que tinha sido a sua vida ia murmurando que o seu Deus era bom mas acrescentava entre dentes, pelo sim pelo não, que o Diabo também não era mau, e assim poder morrer mais descansado. No caso do CDS uma aliança com o PSD era bom, mas se tiver que ser com o PS também não era mau.
Sobra José Sócrates, porque o PS não existe dado que morreu ressequido no deserto de ideias do seu Secretário-Geral, o qual governa (?) um País que só ele sabe onde fica e onde segundo diz se vive melhor que nunca, pois as novas tecnologias e as energias renovaveis, onde somos lideres, são o garante do futuro. O País onde as exportações são a tábua de salvação de tudo o resto e o desemprego, graças aos seus (dele) esforços para criar postos de trabalho (pelo menos 150.000), tem vindo a aumentar menos do que seria de esperar face às crises internacionais, porque ele no seu País, que ninguém mais conhece, ou talvez o Ministro Silva Pereira também conheça, nunca foi o pai de nenhuma crise e ainda está à espera que nasça algum Primeiro Ministro que faça melhor do que ele em matéria de défice. O País que não precisa de apoio de ninguém porque suporta perfeitamente taxas de juro da sua dívida soberana a 7% e 7,5% o ano. O País onde apesar de estar endividado até às orelhas e em plena crise económica e financeira, o Governo adjudicou e assinou o contrato de construção, de um troço do TGV entre o Poceirão, futura Capital do País de José Sócrates, e o Caia, para assim poderem ficar garantidos os lucros do consórcio vencedor, mesmo que a obra não se realize. Um País que embandeira em arco porque a execução orçamental do mês de Janeiro foi boa, mas onde depois de analisadas as contas se verifica que as despesas do Estado aumentaram, quando deveriam ter diminuído 3,7%. O País onde se pagava 19% de IVA quando José Sócrates chegou a Primeiro-ministro, e que já vai nos 23%, e onde hoje o seu Ministro da Finanças deu o mote do que em breve vai acontecer: "Temos que reafirmar de forma clara o compromisso de que tudo faremos para cumprir os objectivos orçamentais e que dispomos de medidas adicionais, se necessárias, para garantir esse cumprimento".
Leia-se AUMENTAR IMPOSTOS. O País onde a gasolina atingiu hoje o seu preço mais alto de sempre, apesar do preço petróleo, ainda que alto, não estar nem de perto no seu valor mais elevado de sempre. São os impostos e a liberalização dos preços para conforto de alguns. O País onde hoje o Primeiro-ministro José Sócrates afirma que a Europa de cuja média nos afastamos paulatinamente todos os anos "já cometeu erros de mais" e "que a resposta à actual crise de dívida soberana tem de ser europeia porque o problema é do euro". Perdoai-lhe Senhor.
Claro que isto se passa num País do faz de conta, e qualquer semelhança de nomes, pessoas e locais é pura coincidência. Digo eu.
No País real o Primeiro-ministro vai na próxima quarta-feira receber instruções de quem manda, que é quem paga, ou seja Ângela Merkel, para poder continuar a boiar com a corda ao pescoço durante mais algum tempo, até que esta perca mais alguma eleição, ou os “mercados” entidade mítica que nos governa se chateie de vez e resolva fazer aquilo que competia aos portugueses fazer.
Post 248
Quando tecemos algumas considerações acerca da execução orçamental de Janeiro, esperada pelo Governo com se D.Sebastião se tratasse, e na altura tidos como positivos, fizemo-lo sobre reserva, e escrevemos: "Ora os números tal como a inflação não mentem, e se os das execução orçamental de Janeiro não estiverem "martelados", são bons embora esperados atendendo aos aumentos de impostos e diminuição de ordenados..."
Cautela e caldos de galinha, tratando-se de José Sócrates, são sempre absolutamente necessários. Com efeito a forma como os resultados foram sendo apresentados aconselhavam alguma prudência. Primeiro em grandes parangonas no Jornal O Expresso, que começa a notabilizar-se como o jornal do regime, fazendo-nos recordar outras épocas e outros jornais, abrindo caminho para que o Primeiro ministro, na sua acção de campanha eleitoral de sábado, voltasse ao assunto dizendo que os números eram realmente bons, tendo voltado ao assunto na segunda feira atacando à esquerda e à direita, afirmando que "não entendia aqueles que não tinham ficado satisfeitos com os bons resultados da execução orçamental de Janeiro".
Publicados os números no meio do alarido que um jogo Sporting vs Benfica sempre provoca, também a fazer-nos lembrar outras épocas e outros Presidentes de Conselho de Ministros que aproveitavam o "futebol e Fátima" quando se propunham aumentar 10 centavos a gasolina, temos de alterar a nossa posição: É que não são só os números da inflação e os do desemprego que são maus. Os da execução orçamental de Janeiro também o são.
Deixemos apenas três ou quatro números para exemplificar: O défice caiu 400 milhões de Euros. Ok. Cerca de 250 milhões de euros referem-se à tributação da distribuição antecipada de dividendos em 2010 de apenas 4 empresas, entendendo-se assim porque deixou o governo que tal fosse possível e perdendo com isso o Estado pelo menos outro tanto. O Aumento das taxas do IVA proporcionaram um acréscimo de 60 milhões de euros, e o Imposto sobre veículos, empurrado pelas compras de automóveis em Dezembro, antes dos aumentos de imposto, cresceu mais de 30 milhões de euros. O resto foram as descidas nos salários, retirada de apoios sociais, diminuição da comparticipação do Estado nos medicamentos, e mais uma medidas de "atarracho" ao estado dito social de José Sócrates.
Portanto dir-se-à que com este números os "mercados" são estúpidos ao continuarem a penalizar a nossa dívida com taxas superiores a 7,5% ao ano para empréstimos a 5 e 10 anos. Não será assim?
Não, não é, porque José Sócrates no seu melhor estilo, infelizmente também acompanhado de um técnico sério e competente como Teixeira dos Santos, "esqueceram-se" de dizer que a Despesa Primária que deveria ter descido 3,7% subiu 0,4%. Que a despesa corrente subiu 0,7%. Que as despesas com pessoal subiram 4,9% e que os Juros da Dívida Publica subiram 23%.
E isto são maus (péssimos?) números e não os anunciar, antes procurar dissimulá-los, é uma mistificação que não engana quem vê os números com olhos de ver, sobretudo aqueles que vêm o seu dinheiro a começar a arder.
Não é por acaso que a REFER não consegue colocar dívida, mesmo com o aval do estado, para pagar dívida vincenda. A seguir, mesmo já a seguir, infelizmente vai ser o próprio Estado que lhe vai seguir as pisadas.
Senhor Primeiro ministro, olhe para um bom exemplo que vem do futebol e para a atitude digna do ex-treinador da Académica de Coimbra quando anunciou a sua demissão: «Nunca seria um problema para a Académica, deixo de ser o treinador porque sinto que sou um problema. Isto tem de levar um abanão, há necessidade de fazer algo que eu não consegui.»
Portugal também precisa de um abanão, Por favor demita-se senhor Primeiro ministro.
Post 244
Vimos ontem na imprensa, e depois na televisão, imagens verdadeiramente chocantes que nos deviam, a todos, fazer parar para pensar.
Um homem, pai de família, engenheiro de profissão, com a neta ao colo, dispara sobre o Pai desta primeiro de frente e depois pelas costas, numa verdadeira execução sumária.
Não conhecemos nenhum dos intervenientes e não temos qualquer reserva mental sobre o assunto, mas não podemos deixar de perguntar: Como se pode ter chegado aquela situação?
Pessoas que pela sua formação deveriam saber usar da razão, por muito que a custódia ou a visita a um filho as pudesse turvar, empurraram para um beco sem saída um assunto da maior importância para uma criança indefesa, que só o diálogo poderia resolver, e nunca a violência física ou verbal.
Provavelmente todos têm alguma razão, e quando se chega a essa encruzilhada da vida não há solução.
Mas a morte daquele Pai, naquelas circunstâncias, não foi solução para ninguém, mas sobretudo não foi solução para a única pessoa que verdadeiramente interessava proteger no caso: Uma criança de 4 anos que fica órfã do Pai, e que de certeza vai ter de lidar para o resto da vida com o trauma deste filme de horror a que assistiu ao vivo e em directo. Os outros, os adultos, que se tivessem entendido.
E este tritse espectáculo faz-nos recordar a sabedoria popular: Entre marido e mulher não metas a colher.
Por vezes, eventualmente com o objectivo de ajudar, ou desajudar sabe-se lá, as famílias contribuem decisivamente para criar situações irreversíveis, e neste caso de verdadeiro horror.
Post 243
Não há muito tempo uma cadeia de hipermercados lançou uma campanha publicitária em que o tema base era: "Ainda sou do tempo em que ..."
Pela minha parte ainda sou do tempo em que se ia ao Futebol de farnel, porque para ver um desafio importante convinha ir com tempo para se poder arranjar "aquele lugar marcado" bem no enfiamento da linha divisória do terreno de jogo, devidamente equidistante das duas balizas para não se perder pitada dos golos da nossa equipa.
Arrozinho de tomate no tacho de alumínio, devidamente enrolado em jornais para se manter quentinho acompanhado de uns pastelinhos de bacalhau, ou em dia de "cabeço de água", um "orelhudo", com um tintinho para ajudar, era o menu possível. Por vezes "catavam-se" uns "trocados", e lá ia um "fruta ò chocolate" a servir de sobremesa. E se sobrava tempo uma "suecada" ajudava a fazê-lo passar até à entrada dos nossos ídolos em campo.
As famílias conheciam-se, trocavam cumprimentos e os habituées trocavam palpites. De muito em muito longe lá ecoava um grito de guerra com o dedo apontado ao incauto adepto: "é lagarto...é lagarto", porque os seus comentários eram entendidos como não defendendo devidamente as cores do "nosso" clube.
Uns tabefes de parte a parte e o assunto arrumava-se por ali com meia dúzia de polícias mais entretidos a ver o jogo do que a olhar para o "maralhal".
Não se sabia o que eram claques organizadas, tochas, petardos, very-lights, cântigos, coreografias e outras terminologias que de todo não deviam fazer parte deste desporto.
Era uma festa ir ao futebol.
Hoje por hoje é quase um suicídio.
O Futebol transformou-se numa industria e a maioria da assistência em exércitos organizados e comandados com objectivos pouco claros.
Murmura-se muita coisa. Que o futebol encobre outros negócios. Que interessa a alguns poderes instalados nos clubes. Disso não sei.
Que é uma vergonha não tenho dúvidas, e os acontecimentos de ontem em Alvalade são apenas um exemplo.
Post 242
O nosso Primeiro ministro afirmou ontem durante uma “acção de campanha eleitoral” que “não percebe como é que algum líder fica mal disposto quando os números são bons” e, acrescentou Sócrates: “Eu acho que todos os que se empenham para que Portugal ultrapasse as suas dificuldades se deviam regozijar com os bons números da execução orçamental”
Senhor Primeiro ministro, ninguém no pleno uso das suas faculdades mentais pode ficar mal disposto com bons números para a economia portuguesa, dos quais dependemos todos nós, uns mais que os outros é certo. O que está em causa é a forma como se anunciam os números e que números se anunciam. É certo que o senhor Primeiro ministro nunca trabalhou numa Empresa que sinta a necessidade de motivar os seus colaboradores para atingir os objectivos traçados, senão saberia que a motivação apenas se consegue com bons números verdadeiros. Tal como acontece com a publicidade que pode vender um mau produto, por algum tempo, mas chega sempre o tempo que nem a boa publicidade lhe vale.
Ora os números tal como a inflação não mentem, e se os das execução orçamental de Janeiro, se não estiverem "martelados", são bons embora esperados atendendo aos aumentos de impostos e diminuição de ordenados, os da inflacção, de acordo com os números divulgados oportunamente pelo INE, são maus. A inflação homóloga de Janeiro é de 3,6%. A subida verificada incorpora já o aumento do IVA, e neste valor médio os combustíveis tiveram uma subida de cerca de 16%, com os preços a crescerem em quase todos os sectores para além dos combustíveis: água, gás e electricidade; transportes; produtos farmacêuticos e até no saneamento básico e recolha de lixo.
Sabendo-se que o preço dos combustíveis continuou e continua a subir e está agora nos valores mais altos de sempre, custando o gasóleo quase 1,40 euros por litro e a "gasolina 95" 1,54 euros, com todas as consequências que tais aumentos têm na economia, é de admitir que a taxa de inflação aumente, pelo menos, para mais perto dos 4%
E disso senhor Primeiro ministro não o ouvi falar. Foi esquecimento ou só alguns números é que são para comentar? Para estes números o senhor Primeiro ministro não teve uma reflexão, uma palavra para transmitir algum alento a quem verdadeiramente os sofre na pele: Os mais desfavorecidos, aqueles para quem deveriam trabalhar o senhor e o seu Governo e não andarem a passear-se pelo País a visitar pela 3ª e 4ª vez as mesmas obras, numa campanha permanente para procurar subir nas sondagens.
Senhor Primeiro ministro mais do que as boas ou más disposições dos políticos o importante é A verdade. Sempre. Nua e crua.
Somos pobres, mas não somos estúpidos.
Post 241
O Jornal Expresso publicou no passado sábado o seu número 1999, preparando-se para entrar num nono milénio de publicações. É significativo, por várias razões, até porque tendo começado a publicar-se durante o anterior regime durante o qual digamos que foi vigiado de perto pelos poderes instituídos, ultrapassou a revolução dos cravos, e soube ultrapassar outras revoluções menos floridas e mais mal cheirosas.
A qualidade dos jornalistas, dos colaboradores e dos colunistas, bem como dos seus Directores ajudaram a marcar a diferença. O nível intelectual de figuras de prestígio como Pinto Balsemão, Marcelo Rebelo de Sousa, Augusto de Carvalho e José António Saraiva, sem menosprezo para os restantes, ajudaram a consolidar um projecto.
Pela nossa parte somos leitores do Jornal Expresso desde o seu primeiro número. É obra.
Salvo pontuais períodos de ausência do País ou quando estacionado em locais em que o mesmo não estava disponível, só por uma vez neste longo período tempo fizemos uma paragem de protesto na compra do semanário.
Foi quando na véspera de eleições legislativas o Expresso apresentou na primeira página a ocupar talvez metade da mesma o previsível futuro Primeiro-ministro, acompanhado de pequenas fotos dos lideres dos pequenos partidos, e só na terceira página aparecia, ainda mais pequena, a foto do líder do futuro maior partido da oposição.
Entendi, eu e muito mais pessoas, que sendo legitimo o Expresso tomar posição o deveria fazer como sempre fez, de forma clara e peito aberto e não de forma subliminar, como apareceu aquele número do Jornal.
Foram três meses de suspensão sabática. Depois, como bom filho, a casa tornámos.
Tudo o que atrás escrevemos tem a ver com o facto de termos sido surpreendidos esta semana com a despedida de vários colunistas, como aliás já vinha sucedendo a algumas semanas, prenúncio de grandes mudanças, mas que neste número do Jornal se tornaram mais evidentes. E em todas as despedidas de nota para além da natural tristeza da hora da partida, uma certa amargura pela forma como se dá essa partida.
Nomes como Inês Pedrosa, Ruben de Carvalho, João Duque, António Almeida e José Manuel dos Santos deixam de colaborar com mensagens que reflectem um estado de espírito critico(?) perante a nova Direcção. Em todos os casos houve uma palavra de agradecimento para quem os convidou, mas nem uma palavra de felicidades para o Novo Director Ricardo Costa. Significativo.
Esperemos que Ricardo Costa não faça como Artur Jorge quando chegou a treinador do Benfica e dispensou 17 ou 18 jogadores comprou 15 ou 16 novos e lançou o clube, que tinha sido campeão na época anterior, numa crise que levou mais de quinze anos a superar e com isso ajudou um clube rival a atingir resultados na altura difíceis de imaginar.
Que no Expresso os vindouros tenham pelo menos a mesma qualidade dos que partiram, e que tragam alguma mais-valia, são os votos sinceros de um leitor atento.
Estarão sob escrutínio atento, tal como Ricardo Costa.
Até breve.