Do alto do seu pedestal, imune a todas as alterações editoriais que o jornal Expresso e a sua Revista têm sofrido ao longo dos tempos Clara Ferreira Alves utiliza a sua pena caprichosa como uma arma de arremesso, política e pessoal, em vez de utilizar o generoso espaço de que dispõe para uma análise serena dos acontecimentos e dos protagonistas.
Tem mérito suficiente para isso como reconheceu Marcelo Rebelo de Sousa, que acaba de dizer na sua análise politica semanal na televisão que CFA “pensa bem e escreve melhor”.
Pessoalmente, apesar de na maioria dos casos não apreciar os seus escritos, nunca deixo de os ler na expectativa que a sua capacidade intelectual nos conduza a alguma reflexão importante.
Mas não tem sido o caso e a pena e a pluma apesar de serem caprichosas seguem obedientemente uma linha de pensamento pouco disponível para aceitar quem não partilha a sua linha política ou a sua forma de ver o mundo, as quais em sua opinião são as únicas correctas.
Mas desta vez porém, foi longe de mais e os termos em que se referiu quer aos portugueses em geral, quer à Presidente da Alemanha, quer aos alemães, cai na ignomínia, com a agravante de não ter tido a coragem de chamar “os bois pelos nomes”.
Quis ser politicamente correcta, mas a sua falta de coragem decepcionou-me, porque aquilo que define como “um dos outros, um dos inomináveis, inconfessáveis e pornográficos bonecos que promovem a nossa veia satírica e a nossa tendência para transformar a tragédia em farsa” e que na sua opinião Pedro Passos Coelho deveria ter sido oferecido à Chanceler Merkel e Portugal deveria "exportar em massa para a grande Alemanha" tem nome próprio, são os Caralhos das Caldas.
Para quem utiliza a palavra como meio de sobrevivência, como CFA gosta de dizer, não lhe ficava nada mal assumir na plenitude aquilo que queria dizer e não esconder-se atrás de um biombo de uma descrição pouco conseguida.
Queixa-se amiudadamente CFA que o “Povo da Internet” essa gente asquerosa, que sabe-se lá por que desígnios tem acesso a um meio onde pode expressar a sua opinião (livre). Queixa-se , e com razão, de um texto falso (cujo teor não conheço, nem quero conhecer se é falso) onde lhe são atribuídas afirmações que nunca emitiu. É repovável. É lamentável.
Mas as afirmações acima reproduzidas são suas e CFA não tem o direito de referir-se a Portugal como um país habitado por bonecos das Caldas.
Como diria o seu colega Miguel Sousa Tavares a propósito da forma como uma parte insignificante de portugueses, onde com muita pena minha CFA se insere, se referiu à chanceler Merkel, antes, durante e depois da sua breve estadia em Portugal, “se fosse alemão e tivesse escutado aquilo, ia a correr dizer-lhe que não queria que nem mais um tostão dos meus impostos fosse para aqueles gajos”.
E como CFA bem sabe, queira ou não reconhecer, nós nesta altura do campeonato precisamos do dinheiro dos impostos dos gajos alemães para sobreviver.
Além do mais, pessoas de saber e com espaço disponível na imprensa e/ou na televisão, como é o caso de CFA, deveriam dispôr da ambos para fazer pedagogia e não lançar fogo sobre a gasolina derramada. A não ser que se seja partidário (a) do “Quanto pior melhor”.
O que apesar de tudo ainda não considero que seja o seu caso.
Não está morta, está é mal enterrada, a ideia da fiscalização sucessiva do orçamento para 2013.
São conhecidos os argumentos a favor dessa tese, mas pouco clarificados os inconvenientes de tal fiscalização não ser pedida, uma vez que é um dado adquirido que vai ser pedida pelos partidos da oposição uma apreciação sucessiva do diploma, o que a consumar-se fará com que o País viva durante meses na incerteza quanto à decisão que tomará o Tribunal Constitucional.
Como consequência de não ser pedida a fiscalização sucessiva os tribunais comuns vão ser inundados, a partir de Fevereiro, de processos pedindo a inconstitucionalidade de algumas normas constantes no orçamento e os Sindicatos vão continuar a acenar com mais esta "acha" para a manutenção do clima de contestação e como uma arma de pressão sobre o Tribunal Constitucional.
Dir-se-á que os juízes do Tribunal Constitucional são imunes às pressões, sejam sociais ou outras, o que com o devido respeito se duvida, porque pela menos uma pressão semelhante à que existiu na avaliação do orçamento de 2012 e que levou o referido tribunal a tomar uma decisão salomónica se manterá e todos nos lembramos ainda do: "É inconstitucional, mas aplique-se".
Em 2013 se tomar a mesma decisão de inconstitucionalidade será que o Tribunal Constitucional vai obrigar, a meio do ano, o Governo a elaborar um orçamento rectificativo e a lançar mão de outros meios, porventura mais violentos, para fazer face às despesas?
A culpa de o orçamento poder conter normas inconstitucionais que terão porventura de ser alteradas não é do mensageiro (quem luta para que a fiscalização sucessiva seja pedida) mas de quem fez a guerra (ou seja quem não pede a fiscalização sucessiva).
Os contribuintes portugueses, o tal melhor povo do mundo, que pagam com sangue suor e lágrimas os seus impostos merecem respeito.