São 8,45 de um dia que amanhece enevoado. A promessa de greve nos transportes públicos parece ter feito aumentar o movimento da rua.
Como diariamente sucede por esta hora, chega um Audi A6 com matrícula de 2007, impecavelmente limpo, que estaciona encostado ao passeio.
Lá dentro sentado ao volante, discretamente um senhor folheia um jornal.
São 10,44 do prédio em frente sai com ar apressado, de mala de computador na mão, um jovem impecável no seu sobretudo azul.
O senhor que estava sentado ao volante dobra o jornal, sai e abre a porta do banco de trás do lado direito do Audi. O jovem bem vestido, mas com cara de poucos amigos, entra e passados segundos o carro arranca.
Rotina diária, hoje um pouco mais tardia que o costume.
Quanto custa a quem quer que seja, provavelmente a todos nós, este comportamento, este modo de estar na vida tão tipicamente português?
Não, não é inveja. Nem do lugar do jovem zangado, nem das suas mordomias. É tristeza pela forma como aqueles que atingem determinados patamares usam e abusam do que lhes é posto à disposição.
E nem sequer estou a colocar em causa as qualidades tidas como necessárias para desfrutar de tais mordomias (provavelmente ser boy), e que pela amostra não devem ser muitas.
Por esta altura, em Londres, um Senhor chamado António Horta Osório, Presidente do Lloyds, por indicação discreta do Banco de Inglaterra, que chegou ao Banco provavelmente cerca das 7,00 já trabalhou quase 4 horas das mais produtivas do dia.
Por isso é dos melhores. Por isso trabalha para os melhores.
É por falta de seguir exemplos de excelência como estes, que estamos todos tão mal.
E vamos continuar a estar.
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